terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Eu não aprendo muito fácil não...

Queria não estar dizendo isso pra vocês. A vida pós cirurgia continua bem fácil, e essa facilidade às vezes prega umas peças em quem é meio bocó, que nem eu.




Mas antes de falar sobre isso, deixa eu pedir uma coisa: Se você é minha mãe, minha irmã ou qualquer outra pessoa que me tem em alta estima, quase como se fosse um filho, faça a nós dois um favor e não leia os próximos parágrafos. A vida vai ser mais fácil assim, e eu estou muito bem, obrigado. Não passe nervoso à tôa. A Paula pode porque ela já sabe mesmo...

Pois é, enfim, o acontecido aconteceu na quinta feira última e foi uma das coisas mais desagradáveis de toda a minha vida. Sem mais delongas, vamos aos fatos:

Por alguma razão que eu não me lembro, eu acabei demorando bastante para almoçar neste dia em particular, e dado meu bom retrospecto nos últimos dias (desde a castanha de dois posts atrás), eu acabei, distraidamente e apressadamente, engolindo um pedaço maior do que devia. Sim, de novo, e para de me olhar com essa cara de reprovação. Eu não me orgulho disso.




Eu sei que esta não foi a primeira vez, mas porque então esta vez foi tão ruim? Porque era dum tamanho/formato tal que se ajustou com tanta precisão ao meu anel estomacal que não ia nem pra cima nem pra baixo por mais que eu tentasse. Sabe o que isso significa? Não? Acredite em mim, eu sei. E dessa vez eu não vou esquecer tão fácil não. Vamos lá:

Meu almoço foi às 13:30 e a entalação foi, portanto, por volta das 14:00. Isso aconteceu num restaurante, e o banheiro local foi alvo de minha primeira tentativa de alívio. Sim, para falar claramente, eu vomitei num banheiro público, o que é uma sensação inédita (e horrível) pra quem nunca tomou um porre digno de Homero, que aliás eu nem sei direito quem é ou porque bebia tanto.

(Segundo a Wikipedia, Homero foi o primeiro poeta grego, mas não fala nada sobre porres homéricos)

Senti um alívio, mas não a resolução do problema. Tanto que antes de deixar o local, precisei voltar ao mesmo banheiro para retomar a triste labuta. Acabei voltando rapidinho pra casa junto com a Carina e o Cezar, enquanto a Paula passava na ótica ajustar seus novos e lindos óculos escuros. A propósito, a cirurgia dela foi super bem, obrigado. Quando entrei pelo portão, corri para o banheiro sem dizer uma palavra. Quase não cheguei lá. Atenção para o detalhe, o restaurante onde eu estava fica a menos de 50 metros de casa. Porcaria!

Liguei no trabalho e avisei que estava impossibilitado de cumprir meus compromissos da tarde. Fiquei em casa assistindo The Wonders, um belo filme, mas que nunca me pareceu tão ruim. A cada 10 minutos eu levantava, ia ao banheiro e punha os bofes pra fora. Eca! E começou a doer.

Lição importante para vocês, crianças: tenham a certeza absoluta de que vocês têm o número do celular do seu médico. Ele pode fazer falta. Eu achava que eu tinha o tal do número, mas nunca conferi, e dessa vez que eu precisei, não tinha. Droga!

Liguei na clínica e a secretária me falou que se a situação não se resolvesse em algumas horas, seria necessário ir ao pronto-socorro para, possivelmente, fazer uma endoscopia para remover o bagulho. Aí foi o começo do calvário. Entrei em pânico aos poucos, já me vi sedado, sendo invadido bucalmente por câmeras e pinças e, aos poucos, conforme a dor se instalava, comecei a simpatizar com essa perspectiva.

Algumas horas depois, achei que era hora de buscar auxílio. No meu desespero, tomei uma das piores decisões da minha vida: fui ao pronto socorro mais próximo, um hospital que eu não vou citar o nome, mas que se você mora em Artur Nogueira, vai saber do que eu estou falando. E se não for daqui, não corre o risco de ir pra lá, então considere-se com sorte. Se bem que, desta vez, uma parte da culpa foi minha, e aqui caberia um pedido de desculpas, não fosse o histórico interesse em tratamentos ineficazes que os profissionais deste hospital demonstram. Afinal, pra eles, tudo se resolve com soro na veia e uma assinatura numa guia da Unimed, mas divago... O pior é saber que eu sabia disso e não decidi ir a outro lugar.

Ao chegar ao local, eu fui logo perguntando se eles tinham equipamento de endoscopia, afinal seria a solução que a minha clínica tinha indicado caso a situação se prolongasse. A médica que me atendeu argumentou que o tratamento correto seria aplicação de remédios via soro (que surpresa!) e insistiu que a minha instrução estava errada. Relutantemente eu aceitei, embora no coração eu não tenha aceitado, afinal eu estava nervoso e descontente com a alternativa oferecida, mas vambora. Fui porcamente examinado, tiraram apenas minha pressão e temperatura, a despeito de eu não ter sintomas de febre ou pressão alta ou baixa. Beleza, nada de errado, mas o problema era no estômago, lembra? Eu não só lembrava como não pensava em outra coisa. E tinha a nítida impressão de que nada daquilo iria resolver. Talvez um Plasil aliviasse os sintomas, mas não ia fazer a bagaça descer, droga! Mesmo não facilitando, aceitei.

Chega a enfermeira. Muito simpática, é verdade. Mas pela primeira vez na vida alguém conseguiu errar uma veia minha! E muitas vezes ela tentou puncionar a mesma veia na parte de cima da mão direita e não conseguiu. Droga de novo! Mudamos de braço e de lugar. Agora o alvo era uma veia no cotovelo esquerdo. E ela errou de novo! E tentou muitas vezes de novo! Damnit! Isso dói, pô!

Sem ver sucesso, me pareceu que Nosso Senhor estava querendo me dizer alguma coisa. E meu estômago também estava querendo me dizer outra coisa bem diferente. Fui correndo ao banheiro e vomitei de novo. Mas agora fiquei em real e inegável pânico. Saiu sangue junto. Tudo bem que foi algo em torno de meia gota de sangue, mas pô, eu estou com um corte recém feito por dentro, e eu não quero que ele abra! Foi a esta altura que a Paula, que estava comigo desde o começo, teve a melhor idéia da noite: Ouvindo a médica dizer que para fazer a endoscopia eu teria que recorrer ao hospital onde meu médico atendesse, ela decidiu ligar na Beneficiência Portuguesa, e foi à portaria do hospital para procurar o número de telefone!

Da minha perspectiva, era a salvação! Mas o hospital em questão não ia deixar alguém se recusar a tomar soro na veia e deixar barato, e eu devia ter previsto isso! Em menos de 5 minutos, a Paula voltou apressada da portaria, me dizendo que a gente ia embora. Senti alívio pela frase e preocupação pela voz/cara dela. "Porque?, conseguiu falar lá?, o que eles disseram?" perguntei eu, e ela só disse que no carro ela responderia. No caminho da rua, a médica até falou en passant  "melhoras, hein?", e eu senti uma ponta de simpatia pela criatura. Mal sabia que eu tinha acabado de ser convidado a me retirar do hospital pela médica. Tudo bem, eu realmente não estava colaborando, mas vamos combinar que todo o atendimento até ali não estava colaborando também! E vamos deixar claro também que estamos falando da mesma equipe médica que só enfaixou o braço machucado da mãe de um amigo meu sem sequer tirar radiografia, e depois ela (ela a mãe, não a médica) descobriu que o braço estava quebrado e precisou de atendimento de emergência e cirurgia também de emergência em Campinas. Quer respeito, seja competente ou, no mínimo, responsável.

Bom, seguindo a idéia da Paula, que a essa altura estava possessa comigo e com o hospital, justificadamente, afinal foi ela que passou pelo embaraço pelo meu 'mau comportamento', liguei para Benê (Beneficiência portuguesa, para os íntimos) e pedi o celular do Dr. Gustavo. A moça, de quem eu não lembro o nome, pegou meu telefone, entrou em contato com o dotô e em menos de 5 minutos ele estava me ligando. Ah, se a gente tivesse tido essa idéia antes...

O doutor me tranqüilizou, disse que o sangue era normal para quem vomitou desse tanto, e que se eu fosse pra Campinas agora pouco eu teria para fazer. Disse ainda que se a solução que ele me passaria por telefone não resolvesse, no dia seguinte ele me encaixaria numa endoscopia no primeiro horário, mas que era 90% de certeza que eu não teria que fazer nada disso. E me passou uma solução caseira que de tão simples parecia xamanismo. E só lembrando que a essa altura eram quase 9 da noite, ou seja 7 horas de sofrimento depois. E a perspectiva de uma noite similar àquela tarde me dava calafrios...


Ele me mandou tomar coca-cola em golinhos minúsculos até liberar o fluxo. Foi o que eu fiz, e em menos de 10 minutos parecia que alguém tinha dado descarga no meu estômago, eu senti tudo fluir de novo! Aliás, pensando bem, essa metáfora é bem legal, porque diz a lenda que Coca desentope privada mesmo, né?




[modo Garfield = ON]

E mais uma vez minha vida foi salva pelo milagre da Coca Cola.

[modo Garfield = OFF]


Agora, falando sério, se você, pós operado safado (ou tonto e distraído como eu) resolver abusar já que a solução é simples, lembre-se que a coca cola é cheia de açúcar, e portanto engorda. E se você quisesse engordar de novo, pra que você teria feito a cirurgia, afinal de contas? E além disso, ela é cheia de um ácido que eu não lembro o nome, que rouba cálcio do seu organismo, e você já tem dificuldade de absorver cálcio, lembra? E além disso, ela tem gás, o que em tese ajuda a dilatar o seu estômago e perder todo o esforço que você fez até agora. E além disso tudo, ela pode causar dumping, e você não quer isso pra sua vida. Acho que já dei motivos suficientes pra você não querer abusar desta solução. E também, já falei demais, né?

A propósito, mãe, eu não tinha falado pra você não ler isso?

Beijos

3 comentários:

  1. Putz Grila! Que coisa! Pára de narrar essas coisa pelo amor de Deus! Senão eu sdesisto de operar! hahahahaha... nossa. que sufoco em cara!

    ResponderExcluir
  2. Oi, Oscar!
    Deve ter sido uma barra. Fico feliz e mais tranquila(tchau trema, snif) que lhe vi bem. Acho que vc deve ler este seu post de tempos em tempos não para se punir, mas para fortalecer seus cuidados frente a comida, pois com o tempo vamos descuidando.
    Beijos,
    Regina e Hugo

    ResponderExcluir
  3. Sei bem de qual hospital se refere... e meu amigo... preferia ter ido ao PS Municipal... dos males o pior, na altura do campeonato nw sei qual é o pior mas enfim... ainda bem q saiu com vida do hospital em questão.
    Brincadeirinha
    Que bom q tudo deu certo
    Abraços

    ResponderExcluir